escola de sargentos

O que dizem as lideranças envolvidas na busca pela ESA

18.386

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Exército, divulgação

Para quem está minimamente ambientado ao jogo de xadrez, há uma expressão chamada "plano de jogo" (também nominada de "planejamento estratégico"). Isso, na prática, quer dizer que é preciso analisar a posição das peças no tabuleiro (que é o campo de batalha) bem como avaliar a posição do adversário (o chamado concorrente inimigo) para que decisões certeiras sejam tomadas até, então, haver o "xeque mate".

E é nessa situação em que Santa Maria se encontra, desde o ano passado, quando foi deflagrado o processo de escolha da cidade a receber a "nova" Escola de Sargentos das Armas (ESA). Ao passar por cada fase, que chegou a ter mais de 20 cidades na concorrência, muita articulação foi feita. Se a escolha será técnica, a habilidade política precisa entrar em cena - quase que de forma hierárquica e ordeira, como bem preconiza a cartilha do bom militar. Cuidadoso, neste sentido, o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) percorreu os gabinetes das capitais gaúcha e federal para "recrutar" o maior número de apoiadores políticos. Desta forma, teve o aceno do governador Eduardo Leite (PSDB) "para que todo o possível" seja feito para a escolha de Santa Maria.

Projeto do Kit-Covid é aprovado na Câmara

Pozzobom também esteve reunido com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), um conhecedor do Rio Grande do Sul, já que ele foi o número 1 do Comando Militar do Sul (CMS), órgão máximo do Exército na região sul do país.

AVANÇO

Se Santa Maria hoje está entre as três finalistas deste processo - ao lado de Ponta Grossa (PR) e Recife (PE) - é porque o único município gaúcho na disputa cumpriu com mérito as fases, até aqui, colocadas.

A disputa envolve números expressivos, serão 2,2 mil alunos e 1,5 mil funcionários, e um investimento de R$ 1,2 bilhão, a ser executado em até cinco anos. Neste período, serão erguidos 40 prédios da nova ESA e uma vila militar.

O COMEÇO

Ainda no primeiro semestre de 2020, Santa Maria surgiu no radar de possibilidades do Exército Brasileiro. De lá para cá, ainda de forma reservada e sem "grandes alardes", o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) esteve reunido, pela primeira vez, em 18 de julho, com o comandante da 3ª Divisão do Exército (3ª DE), general Hertz Pires do Nascimento.

A conversa entre os dois é considerada a data marco para o começo das tratativas entre a prefeitura e o Exército. Ainda naquele momento, o município, que tem o terceiro maior contingente de militares do país e com mais de 20 organizações militares, tentava se cacifar e mostrar ao alto comando das Forças Armadas que a cidade tinha atributos para avançar na missão.

RELAÇÕES

Em paralelo às tratativas, entre poder público municipal e integrantes do Exército, Santa Maria - em uma conjugação de esforços poucas vezes vista antes na história recente do município - montou um aparato de enfrentamento para a batalha pela ESA. Nesta guerra, travada em gabinetes e visitas técnicas ao município com envolvimento dos mais variadores atores - militares, políticos, empresários e sociedade civil organizada -, Santa Maria foi avançando, casa a casa, neste tabuleiro.

Agora, para manter os movimentos corretos para "ganhar a guerra", as forças de toda a sociedade convergem para a próxima semana, quando o alto comando do Exército estará no Rio Grande do Sul. Na capital gaúcha, na terça-feira, o coordenador-executivo para a escolha do novo local da ESA, general Joarez Alves Pereira Junior, virá para aquela que é considerada a última visita técnica antes do anúncio da escolhida, previsto para ocorrer em maio. No dia seguinte, eles estarão aqui - talvez, pela última vez ou não, a depender muito dos movimentos feitos até o momento e que miram no futuro.

Quem é o general à frente da missão de escolha do local

Nome técnico e quem está à frente da escolha pelo melhor município que atenda às exigências do Exército para a definição da "nova ESA", o general de Divisão do Exército, Joarez Alves Pereira Júnior, é o fiel da balança nessa disputa que, além de ter critérios técnicos bem definidos, também tem sido "cortejada" por fatores políticos.

Eduardo Leite critica postura de Bolsonaro sobre ação no STF contra governadores

Discreto e habilidoso, Joarez é o coordenador-executivo do projeto da nova Escola de Formação e Graduação de Sargentos de Carreira do Exército. A missão foi dada a ele, ainda em 2020, quando a alta cúpula do EB decidiu que a sede da ESA, situada há 70 anos em Três Corações(MG), já não atendia mais aos anseios do Exército.

Nascido em Bragança Paulista, interior de São Paulo, o militar de 60 anos - casado e pai de dois filhos - foi instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), além de ter estudado e exercido funções no Exterior, como a de Observador Militar da ONU, na Iugoslávia, entre outras incursões.

O PROJETO

Formado em 1982 na Aman, na condição de número 1 da turma, Joarez é dono de um currículo extenso. Fez cursos nas áreas da inteligência e em escola de guerras - todos nos Estados Unidos. Foi ainda adido do Exército junto à Embaixada do Brasil em Washington. Comandou a 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Bagé, e a 6ª Região Militar, em Salvador (BA). Foi também subchefe do Estado-Maior do Exército para Assuntos Internacionais.

Assembleia repassa R$ 5 milhões a 55 pronto atendimentos que recebem pacientes de Covid

Com conhecimento acima da média quanto à engrenagem por dentro das Forças Armadas, o nome dele foi praticamente consensual para "a missão ESA". Fontes afirmam que por todo esse know-how é que foi dado a ele a incumbência, em junho do ano passado, de estar neste, que conforme o EB, é um projeto transformador.

A nova unidade deve centralizar toda a formação, que hoje ocorre em 16 diferentes organizações militares, em uma escola única. Essa nova ESA seria capaz de alavancar mais a qualidade da formação dos militares, que são 62% do efetivo do Exército.

União suprapartidária mobiliza políticos

Mesmo que a escolha do Exército seja técnica, os políticos, que apoiam a causa, têm papel importante na disputa: a representação da cidade. Reforçar os aspectos positivos e assegurar ações dos governos municipal e estadual, para providenciar tudo o que for necessário para acolher a infraestrutura e grupo de alunos e militares do Exército, são as missões do núcleo político, que é suprapartidário.

Para isso, desde 2020, políticos (com mandatos) mantêm contato com representantes do Exército em Porto Alegre e em Brasília. Deputados estaduais Valdeci Oliveira (PT), Giuseppe Riesgo (Novo), tenente coronel Zucco (PSL) e Beto Fantinel (MDB) e o senador Luis Carlos Heinze (PP) têm buscado apoio de seus pares nas respectivas bancadas, bem como com o governador Eduardo Leite (PSDB), que chamou para si uma conversa com o alto comando do Exército. Todos, invariavelmente, levam o mesmo pedido ao general Edson Leal Pujol, comandante do Exército, o de que Santa Maria é a escolha acertada. 

O que dizem as lideranças políticas envolvidas na busca pela ESA

"Estamos todos mobilizados para que o Rio Grande do Sul seja o destino da Escola de Sargentos das Armas. Até porque o nosso Estado, o Rio Grande do Sul, tem muito orgulho do contingente, da estrutura do Exército que temos aqui. Temos muito carinho pela família militar que ajuda o nosso Estado, não sendo apenas uma instituição que nos orgulha e pela própria defesa, mas também pelo engajamento nos momentos mais críticos. O Estado está todo mobilizado para fazer tudo que estiver ao nosso alcance para trazer para Santa Maria a Escola de Sargentos." - Eduardo Leite (PSDB), governador

"Santa Maria está hoje, nesta situação, de 'finalista' porque cumpre e cumpriu, até aqui, a uma série de critérios técnicos. Apenas ao observar as questões colocadas pelo Exército, fica mais do que evidenciado que o nosso município é disparado o mais preparado entre os demais. Não tenho nenhuma dúvida de que seremos a cidade escolhida. Faremos todo o possível para que a Escola de Sargentos venha para cá. Ainda que a decisão seja técnica, é importante toda essa mobilização política e da sociedade civil organizada e de segmentos representativos. Isso mostra o quanto queremos a ESA." - Jorge Pozzobom (PSDB), prefeito

O caminho para a privatização da Corsan anunciada por Leite

A demanda que restava em relação à impressão dos responsáveis militares quanto à dedicação de Santa Maria para a vinda da Escola, o prefeito me resguardou que foi realizado na visita a Brasília no início de fevereiro. A tratativa realizada na quinta também foi muito importante para o que estamos tentando deixar claro. O que era para ter sido feito no cenário político, como as garantias da prefeitura, agora, já foram feitas. Estou bem otimista com nossos pontos positivos, como o clima de Santa Maria, aspecto fundamental para o treinamento dos novos militares, que precisam ser capacitados a se adequar a qualquer tipo de clima. Estou confiante." - Giuseppe Riesgo (Novo), deputado estadual

Esta questão tem sido tratada com muita ênfase na área política essa disposição e vontade em recebermos a ESA. O governo do Estado nos deu respaldo em estar junto para tudo o que for necessário. Nosso papel é esse reforço das nossas vantagens técnicas, para o momento em que o general apresentará a cidade aos comandantes responsáveis. Há muito tempo não tínhamos Santa Maria unida desta maneira, entre empresários, imprensa e tantas frentes políticas, além da consciência regional quanto ao assunto. Tenho convicção de que Santa Maria será escolhida." - Beto Fantinel (MDB), deputado estadual

O que o ensino da ESA guarda à cidade

Apresentamos para a equipe à frente da escolha, os pontos positivos da cidade. Na semana passada, fui ao general Pujol, em Brasília, para reafirmar que Santa Maria está unida em torno desta pauta. Estou realmente esperançoso, porque a cidade atende a todos os pré-requisitos e está pronta. Pujol, como gaúcho e conhecedor da cidade, também está na torcida. A sociedade inteira de Santa Maria, não apenas a classe política, quer a ESA. Temos todos os pré-requisitos, como o colégio e hospital militares, diferente de Ponta Grossa (PR), por exemplo. Tudo nos leva a acreditar em um desfecho feliz, mas aguardamos." - Tenente Coronel Zucco (PSL), deputado estadual

"Santa Maria tem todas as condições, potencial educacional e de moradia. A reunião da última sexta-feira foi uma demonstração de apoio total a esta causa. Eu e Gabriel Souza (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, colocamos a Assembleia inteira à disposição." - Valdeci Oliveira (PT), deputado estadual

"Com as indefinições do orçamento da Assembleia e por ainda não termos o resultado concreto da disputa, ainda não podemos garantir valores de apoio do Parlamento. Porém, quando o resultado sair, se formos vitoriosos, vamos arregaçar as mangas para providenciar todos os recursos necessários. Eu e o general Pujol confiamos em nós e na cidade." - Luis Carlos Heinze (PP), senador

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

O que o empresariado local quer e o que oferece em contrapartida

Setor bastante interessado na vinda da Escola para a cidade é o comércio, já que o público para todo tipo de serviço, e com renda fixa garantida, tende a dar um salto. Por isso, representantes do segmento têm participado de reuniões do segmento e fazem coro afinado junto à torcida.

Na visita de Pozzobom a Brasília em fevereiro, por exemplo, estavam junto dele os presidentes da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism), Luiz Fernando Pacheco, e do Sindicato da Construção Civil de Santa Maria (Sinduscon), Samir Samara, além do secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Ewerton Falk.

Em Brasília, Pozzobom trata da ESA com ministro Onyx Lorenzoni

Envolvido diretamente na articulação pela ESA, o empresário Carlos Costabeber se mostra esperançoso pela possibilidade da abertura de um novo ciclo econômico à cidade. Porém, ele alerta para a necessidade mais do que urgente para que o empresariado local esteja preparado para receber bem como atender a nova demanda, que se anuncia, em caso de vinda da ESA:

- Essa é a maior decisão do Exército nos últimos tempos. Há muito planejamento e grande investimento para esta estrutura gigantesca, que se perpetuará no município escolhido. É por isso que precisamos nos preocupar, sim, em oferecer boas opções de entretenimento e ensino para os 2,2 mil jovens alunos e família militar. É necessária consciência de que a cidade mudará de patamar.

Para o empresário, ainda falta organização, também, por parte do poder público, como uma proposta de apresentação da cidade para os moradores que já chegam todos os anos em função das 22 organizações militares presentes hoje:

- A universidade federal, por exemplo, poderia ser bem aproveitada pelos alunos, porque possui amplo espaço de lazer no campus e ensino na área da tecnologia, tendo capacidade de dispor cursos complementares, de qualificação nesta área de interesse das Forças Armadas.

*Colaborou Gabriele Bordin

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Banqueiros e economistas exigem vacinação e outras medidas de combate à Covid-19

Próximo

Eduardo Leite critica postura de Bolsonaro sobre ação no STF contra governadores

Política